"Indo eles de caminho, entrou numa aldeia. E certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra.
Marta, porém, andava distraída em muitos serviços e, aproximando-se, disse: Senhor, não te importas de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude.
Respondeu-lhe Jesus: Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada com muitas coisas, mas uma só é necessária. Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada." - Lucas 10:38 a 42
Mulheres, hoje é o nosso dia! Apesar do comércio se utilizar excessivamente dessas datas em benefício próprio, cabe a nós darmos um pouquinho de significado mais profundo além do consumismo. Esta é uma oportunidade para pensarmos na trajetória espiritual da mulher na Terra e o que temos feito hoje em dia com isso.
A mulher precisou encontrar a sua própria voz em várias funções e papéis sociais. A mensagem para os homens depois do amadurecimento do feminismo é ¨Eu te amo, mas minha condição como mulher não é de inferioridade." Sem dúvida, mais do que conquistas sociais, isso é um reflexo da busca por relações mais equilibradas, próprias do processo evolutivo da humanidade.
De maneira geral, a humanidade ainda tem muito a avançar no que diz respeito a dominadores e dominados. Com relação a mulher, barbáries são a realidade em diversos países. Em Dafur no Sudão, 80% das mulheres já foram estupradas, realidade frequente em menor proporção em vários países da África, Oriente Médio, no Oeste Asiático e na Índia. Na China a quantidade de meninas abandonadas é estrondosa e ainda na Índia, os índices de mortalidade em meninas é altíssimo, uma vez que doenças potencialmente curáveis não são tratadas por uma escolha cultural dos pais de baixa renda em não investir nas mulheres. Acesso restrito à educação e à saude para as mulheres são barreiras ainda intrasponsíveis em diversos lugares.
Mas e nós mulheres brasileiras?
Ainda banalizamos nosso corpo, aderimos à ditadura da aparência externa e estimulamos o machismo na educação dos meninos. O salário das mulheres ainda é bem menor comparado aos homens com o mesmo cargo e a exploração sexual é uma triste realidade em várias partes do país. Mas a mulher não deixa de buscar a própria voz, as pontes, sem deixar o salto alto. Atualmente, aliás, a busca está mais para mulher maravilha, do que mulher de carne, osso e espírito.
Esse é o novo olhar em torno da "Síndrome de Marta" tão estudada pelos cristãos de diversas derivações religiosas e por espíritas, como é o caso de um texto da autoria de Richard Simonetti.
Marta é o retrato no Evangelho daquela mulher ansiosa e nervosa em dar conta de suas tarefas, mesmo diante da visita de Jesus. Trata-se do retrato da mulher absorvida pelo cotidiano, sem conseguir mais filtrar o que é essencial. O alerta dessa passagem bíblica é mais profundo do que a primeira vista pode parecer: Quantas vezes não deixamos passar a visita da oportunidade de crescimento espiritual?
Permanecer absorvido por problemas e demandas do cotidiano é muito fácil, o exercício é a maneira como desempenhamos tantos papéis e atividades. Marta, fica ainda incomodada com Maria que na sua percepção deveria estar junto com ela auxiliando.
Isso é bastante comum na Casa Espírita. As mulheres são a grande maioria das trabalhadoras e portanto a síndrome de Marta nos cabe para reflexão.
Quantas vezes a maneira como executamos as atividades, fazendo valer mecanicamente as regras e a ordem na Casa Espírita, não estamos perdendo o principal objetivo essencial: o encontro com Deus.
Para Marta suas atividades se tornaram um fardo e dessa forma, o esvaziamento do afeto e do propósito é inevitável. No cotidiano, quantas mães alimentam, vestem, levam à escola seus filhos, em meio a gritos, brigas, correria e nervosismo? As atividades estão sendo cumpridas, mas onde ficou o essencial?
A sensibilidade é uma competência feminina necessária em qualquer lugar, no trabalho, na família, com os amigos e inclusive na percepção, ação e vibração pelos mencionados apelos do mundo.
Seja na Casa Espírita ou no cotidiano, nós mulheres espíritas não podemos nos esquecer que o valor da nossa existência é mais transcendente do que os papéis que assumimos. A síndrome de Marta, na minha opinião, nunca foi tão atual.
Que a visita de Jesus em sua vida, nas mais variadas roupagens, seja percebida e bem aproveitada por você. Hoje é dia de agradecermos pela oportunidade maravilhosa de sermos mulheres, espíritas, nesta existência.
Um abraço fraterno
Bia Molica
BIA MOLICA é autora e mantenedora do blog "Perfume Espiritual"