segunda-feira, 9 de agosto de 2010

NOSSA DIFICULDADE EM EVOLUIR


Por Alkindar de Oliveira

Uma pergunta ao leitor: Entre uma pessoa que pratica o budismo há dez anos e um espírita que abraça o Espiritismo o mesmo período de tempo, qual delas tende a ter mais serenidade e paz interior?

Antes de continuar a leitura deste texto, pense um pouco mais para responder.

Pelas experiências que fiz em alguns seminários, é grande a possibilidade de você, caro leitor, ter respondido que o budista é o que conseguiu maior progresso no campo da serenidade e da paz interior. E você está certo.

Mas, por que o budista consegue mais progresso do que o espírita, se o Espiritismo, pelo seu conteúdo ímpar, oferta-nos todos os ingredientes para também crescermos interiormente?

A resposta é simples: nós espíritas nos especializamos no conhecimento, enquanto o budista especializou-se em seguir uma metodologia sustentada em atitudes de interiorização por meio da prática da meditação e da atenção plena. Daí o seu progresso.
Todo crescimento exige método.
Em termos de conhecimento estamos muito bem. Mas nos falta seguir uma metodologia para vivenciarmos esse conhecimento, nesse ponto estamos ainda muito longe dos budistas. Como reverter esse quadro? É justamente o propósito deste artigo: mostrar uma metodologia altamente eficaz para desenvolvermo-nos interiormente aproveitando da benção que é o conhecimento espírita. Metodologia válida também aos que ainda não abraçaram os princípios espíritas, mas que estão abertos a novos conhecimentos.

UMA METODOLOGIA EVOLUTIVA QUE “CAIU DO CÉU”

A metodologia a que faço referência está no livro Seara Bendita, dos médiuns Wanderley Soares de Oliveira e Maria José de Oliveira e espíritos diversos, Editora Dufaux.

Metodologia de caráter excepcional, ditada pelo amoroso espírito Eurípedes Barsanulfo. Disse o eminente educador: “Pugnemos por essa linha transformadora: cérebro instruído, coração sensibilizado, mãos operosas e grupos afetivos.” Essa metodologia concisa, objetiva e riquíssima, deveria ser intensamente divulgada, pois ela é “milagrosa”, sem abuso do termo.

Inseri essa metodologia nos treinamentos empresariais que ministro e obtive resultados surpreendentes. O processo sabiamente descrito pelo espírito Eurípedes Barsanulfo pede que se trabalhe quatro itens. Minha dúvida, ao implantar o método, era entender qual seria a sequência ideal das quatro etapas.

Por onde começar? Por onde terminar?

A primeira constatação que tive é que o indivíduo que tem o “coração sensibilizado” muito provavelmente já trabalha bem duas questões: “mãos operosas” e “grupos afetivos”. A pessoa sensibilizada, necessariamente, não precisa ter “cérebro instruído” para atingir essas metas. Quantas pessoas simples, com pouco nível de educação escolar, são sensíveis, trabalham em favor do próximo e são afetivas? Muitas, não?
Partindo desse princípio, percebi que o melhor caminho para atingirmos nossa evolução interior, seria primeiramente trabalhar o “coração sensibilizado”, pois a pessoa sensível estaria mais aberta para percorrer as outras etapas do processo. Contudo, o tempo ensinou-me que essa minha dedução era equivocada em termos de resultados efetivos.

O mestre Allan Kardec concluiu em seus estudos que a verdadeira aprendizagem precisa partir do “conhecido para o desconhecido”, pois só assim a pessoa aceita com mais facilidade dar passos diferentes. Desse modo, uma metodologia para ser eficaz precisa partir da valoração do que o educando já sabe.

Colocar como primeiro degrau o “coração sensibilizado” não seria partir do conhecido, mas, sim, do desconhecido. Afinal, pouquíssimas pessoas têm o coração realmente sensibilizado. Então, veio-me a seguinte reflexão: as pessoas constantemente estão em busca de conhecimento, seja para ostentar poder, seja realmente para se instruir, então, concluí que seria necessário começar o processo pelo item “cérebro instruído”. Passei a inserir em meus treinamentos a sequência: cérebro instruído, grupos afetivos, mãos operosas, coração sensibilizado, que se mostrou acertada.

Pude concluir que devemos partir do conhecimento, do estudo - nesse item nós espíritas somos craques –, depois devemos incentivar a interação em equipe, que são os “grupos afetivos”, mas não somente tendo os seus integrantes lendo bons textos e dialogando, mas também abraçando uma atividade prática solidária, por exemplo, a equipe cuidar de crianças carentes (“mãos operosas”) e, então, descobri nessas experiências que o último item (“coração sensibilizado”) não precisa ser trabalhado de forma específica, pois ele é a resultante, ou a feliz consequência, da ação dos três itens anteriores. Em outras palavras, um grupo que valoriza o conhecimento, que convive pacificamente, que faz algo prático e benevolente em conjunto, naturalmente desenvolve a sensibilidade, que é a grande conquista de um espírito em evolução.
Fiquei muito feliz com essa dedução, pois, conforme já sabido, nós espíritas infelizmente estacionamos no primeiro item: cérebro instruído e agora, pelas palavras de Eurípedes Barsanulfo, sentimo-nos impelidos a caminhar para bom convívio entre diversas pessoas (grupos afetivos), tendo um projeto comum sendo trabalhado pela equipe (mãos operosas), e consequentemente, conquistaremos a sensibilização (coração sensibilizado).

UMA FELIZ “COINCIDÊNCIA”

O grande poeta e dramaturgo inglês Willian Shakespeare nos legou uma frase significativa: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que imagina nossa vã filosofia”. Usando sua poesia como inspiração, pode-se constatar uma coincidência relativa à metodologia descrita neste texto.

No início deste milênio a Unesco determinou os quatro pilares da educação para o século 21, a saber: aprender a conhecer; aprender a conviver; aprender a fazer; aprender a ser.
Pergunto-lhe, caro leitor:
“Aprender a conhecer” não tem a ver com o “cérebro instruído” que o educador Eurípedes Barsanulfo nos ensinou?
“Aprender a conviver” não tem a ver com “grupos afetivos”?
“Aprender a fazer” não tem a ver com “mãos operosas”?
“Aprender a ser” não tem a ver com “coração sensibilizado”?
Seria simples coincidência?

MAIS UMA FELIZ “COINCIDÊNCIA”

Teremos ainda mais eficácia na aplicação dos quatro passos se, tendo o conhecimento (cérebro instruído), alimentarmo-nos de um profundo “desejo de melhora”.
Um genuíno desejo de melhora nos estimula à convivência (grupos afetivos), e também a aceitarmos o outro, colocando-o em projetos comuns ou incluindo-o em nosso universo (mãos operosas), o que nos trará, como natural consequência, o bem-vindo “coração sensibilizado”. A seqüência “desejo de melhora – interiorização – transformação”, mais à frente desenvolvida, representa outra feliz coincidência, que se enquadra aos quatro itens da metodologia de Eurípedes Barsanulfo e também aos quatro itens da metodologia da Unesco.

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