“Não há desenvolvimento mediúnico, para reallzações sólidas, sem o aprimoramento da individualidade mediúnica.”
Seara dos Médiuns – capítulo 41 Formação Mediúnica – Emmanuell / Francisco Cândido Xavier
Seara dos Médiuns – capítulo 41 Formação Mediúnica – Emmanuell / Francisco Cândido Xavier
Mediunidade é uma bela oportunidade de crescimento e aprendizado. Vê-la como uma prova imposta em função de dívidas do passado é cultivar uma visão doentia de algo que, em verdade, é uma benção, um tesouro. Não é a mediunidade que é o problema, mas o médium.
É comum ouvirmos a expressão: “estou com problemas mediúnicos.” Ninguém tem problemas mediúnicos, temos problemas morais e emocionais que são refletidos no exercício da mediunidade. A mediunidade é uma força neutra e sua aplicação é que toma um colorido moral inerente ao médium. Existem problemas psicológicos e não mediúnicos.
Com muita freqüência, em centros espíritas e espiritualistas, é passada a orientação que aponta o desenvolvimento mediúnico como solução para os problemas de ordem pessoal. A frase mais corriqueira sobre o assunto é: “você precisa desenvolver”.
Foram muitas as pessoas que já me procuraram com os mais variados problemas e foram orientadas em algum lugar da seguinte forma: “enquanto você não for para a mesa de trabalhos da mediunidade, você não resolverá isso, sua vida ficará travada.” Parece-me mesmo que, por conta dessa cultura de “desenvolvimento mediúnico”, uma boa parte dos trabalhadores espíritas que freqüentam reuniões mediúnicas, foi inserida nas atividades com esse propósito: resolver suas dores pessoais. Além disso, é muito freqüente alguém dizer que ainda não procurou o centro espírita relacionando sua busca a “cuidar da mediunidade que está paralisada”, como se esse fosse o grande objetivo do centro e do Espiritismo.
Sem dúvida alguma, a tarefa mediúnica traz benefícios à vida interior, mas daí a afirmar que a solução de nossas lutas pessoais possa ser integralmente resolvida dessa forma é um equivoco. A prova disso é que todas as questões morais e emocionais do médium que constituem as raízes dos conflitos e desafios, continuam a existir depois de sua adesão aos serviços da mediunidade. O que acontece é uma amenização, um abrandamento dos estados íntimos de dor e seus reflexos na vida mental. Inegavelmente o médium, antes perturbado e confuso, alcança um alívio significativo com a prática mediúnica, por vários motivos.
O exercício da mediunidade, porém, não exime o médium de realizar sua educação emocional e moral, que só pode ser construída nos embates da convivência dia após dia. Somente com uma ação de enfrentamento através do autoconhecimento com consequente mudança de comportamento, poderemos estabelecer conquistas reais para nossa paz interior. É necessária muita honestidade emocional, amor a si mesmo e esforço perseverante para alcançar esse objetivo.
Alguns trabalhadores sinceros da mediunidade chegam a observar que o exercício não lhes suprime a pressão das lutas íntimas. Ainda assim são levados a acreditar em uma cultura religiosa de miséria interior, adotando a dor como caminho de salvação em função de seu suposto passado reencarnatório repleto de más ações ou devido a severas interferências espirituais.
Aliás, sobre esse assunto, parece mesmo que temos uma conduta de alcance coletivo e com poucas exceções em nossa comunidade. Alastrou-se uma evidente confusão entre estar comprometido com uma tarefa espírita e a solução de assuntos espirituais. Participar de tarefas doutrinárias parece ter tomado uma importância superdimensionada em relação à nossa libertação consciencial, como se pelo simples fato de estar engajado em uma obra social, em uma atividade socorrista ou quaisquer outras iniciativas espíritas, por si só, significasse progresso espiritual, solução de velhas pendências, quitação perante nossos compromissos conscienciais ou ainda melhoria moral. Estamos confundindo ação doutrinária com evolução espiritual, e isso nem sempre acontece.
A tarefa espírita é extremamente importante, mas não liberta ninguém por apenas se comprometer com ela. Ninguém fica isento do árduo trabalho de reeducação das velhas tendências e isso só é possível através de um movimento consciente e individual de enfrentamento, autoconhecimento, mudança de condutas e também de participação em tarefas que nos auxiliem, de fato, a melhorar os aspectos sombrios de nossa personalidade.
Outros médiuns começam a questionar sobre os benefícios íntimos que não aparecem imediatamente após sua adesão à prática mediúnica e tombam na precipitação, na insegurança e logo abandonam tudo nos primeiros passos. Esperavam que a tarefa lhes suprimisse o esforço pessoal de transformação.
Conheço médiuns que estão há algumas décadas na tarefa da mediunidade e apenas amenizaram suas lutas íntimas. Algo que deve ser considerado como muito bom, pois se não se aderissem à disciplina da frequência e da assiduidade, poderiam ter um volume de amarguras ainda maiores. Nada impede também de argumentarmos que a tarefa em si não está adequada às necessidades de uma ou outra pessoa. Com tantas orientações imprecisas embasadas na cultura de “desenvolver mediunidade”, inegavelmente um contingente de pessoas se ajustou ao exercício da mediunidade sem quaisquer compromissos previamente projetados no mundo espiritual ou ainda sem foco nas suas necessidades mais essenciais de aprimoramento.
Ficamos assim com essas considerações apenas para que tenhamos algo sobre o que dialogar em grupos de estudo e reflexão. Nada conclusivo, nada fechado! Apenas algumas idéias para uma discussão que me parece muito profícua: prática mediúnica resolve os problemas do médium?
Fonte: http://www.wanderleyoliveira.blog.br/
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