Por Bia Molica
Quem nunca teve a sensação de ser transportado para outro lugar emocional através da música? Sentir um comichão por dentro, os pensamentos se moldando ou lembrando ao balanço da melodia.
Não é por acaso que a música é usada como ferramenta terapêutica, afinal somos envolvidos de música. Os antigos yogues diriam que somos feitos de música, sons primordias que vibram em frequências muitas vezes imperceptíveis para os ouvidos que só se voltam para fora.
O bebê se acalma ao escutar o coração da mãe batendo, esse som terno, forte, ininterruptível que ele ouviu por tanto tempo, enquanto preparava-se para re-nascer.
Você já reparou como o som da água acalma? Vários Cds de meditação incluem o som de água corrente, chuva... uma antropóloga uma vez me explicou que uma das teorias para isso é que, por uma questão adaptativa, carregamos de nossos ancestrais essa impressão emocional de sentir-se calmo, ao mesmo tempo feliz ao ouvir o som da água. Já que o homem primitivo ainda nômade, tinha que muitas vezes caminhar longos trajetos para achar o que beber, encontrar água era sinônimo de sobrevivência, alegria.
Muito interessante também quando se propõe em grupo, exercícios de ritmo. O quanto é necessário as pessoas observarem e perceberem que um grupo para funcionar bem, precisa respeitar o ritmo de cada um. Cada membro por sua vez, também precisa flexibilizar-se para aproximar-se um pouco mais do ritmo do grupo ao qual quer fazer parte. Há os que são rápidos demais, os que estão lentos demais, os que não percebem o ritmo coletivo, os que tentam seguir a maioria deprezando o próprio ritmo.
Da música e do sons, há que se falar da voz que imprime uma particularidade toda especial àquilo que é falado, ao que é cantado. Tem músicas que só ficam interessantes na voz de um cantor, como se fosse moldada para ele cantar. Há pessoas que transmitem tamanha paz e docura através da voz, que nos sentimos envolvidos por vibrações que acolhem e elevam.
Cantar é mover o dom como diria Djavan e é mesmo quando a arte se propõe a trazer de volta o fluxo criativo que nos coloca em sintonia com a própria alma, com Deus. Quando o barulho na alma está intenso, fugimos do silêncio que nos coloca de frente para o espelho. Para suportar o silêncio, contemplar o silêncio é preciso aquietar tantos sons desconexos, desafinados, fora do compasso.
Sou apaixonada por arte, preciso de arte para colocar em movimento o que carece de forma, de trans -forma - ação. De uma tese sobre arteterapia, um pequeno poema me chamou atenção pela sintonia que expressa o que sinto:
"Quando não está dando prá falar
Mas calar também não dá
Uso a arte
Prá poder me expressar
E se não está dando prá falar
Nem está dando prá calar
Com a arte
Você pode se expressar"
Glória Gaercez (2006)
Acredito que a parceria entre arte e espiritualidade é algo verdadeiramente mobilizador. Um caminho de sentir e expressar a beleza de ser transpessoal, de estar nesta jornada seguindo, aprendendo, amando.
Para encerrar este post, uma música que eu adoro nas vozes do Roupa Nova, para transformar o barulho na alma. Deixa fluir o amor
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