Marilene e Roberto formavam um casal, como se poderia dizer, normal. Apaixonados, conectaram-se firmemente um ao outro pelo eixo do matrimônio. Seguiam sua estrada alegres e em harmonia, girando a vida no mesmo ritmo, até que numa destas curvas do cotidiano, Roberto esqueceu de comprar os cogumelos encomendados por Marilene para o jantar em família. A raivosa crítica de Marilene à falha de memória de Roberto fez a ira deste despertar das profundezas de sua instável serenidade. Marilene não deixou por menos, afinal, ela estava com a razão. Roberto reconheceu o equívoco mas, diante de tal “humilhação”, não poderia se rebaixar. Não é preciso dizer que o que seria um sublime e congregador jantar em família virou uma festa da casa da mãe Joana. Interessante o comportamento humano: na rigidez dos compromissos, basta uma pequena guinada para que a relação se desgaste, consuma energia e a estabilidade vá para o beleléu.
E onde entra o diferencial nesta história? Em poucas palavras, diferencial é um daqueles dispositivos criados pela genialidade humana para resolver algum problema específico. Imagine um carro fazendo curva. Em um mesmo eixo, a roda de fora percorre um caminho mais longo, portanto, gira mais que a de dentro. Nos primeiros carros fabricados, as rodas eram fixas uma à outra pelo eixo. Resultado? Bastava uma curva para que, assim como no casamento de Marilene e Roberto, houvesse desgaste de pneus, consumo exagerado de combustível e a estabilidade fosse para o beleléu. O diferencial, instalado no meio do eixo, deu liberdade às rodas. Embora montadas para atingir o mesmo objetivo, o diferencial fez que girassem de forma independente uma da outra. Bingo! Os problemas foram resolvidos.
Que bom se as relações humanas pudessem ser resolvidas por soluções de engenharia. Bastaria inventar um diferencial no eixo matrimonial para que Marilene e Roberto, conectados por valores e nobres objetivos, pudessem girar com independência um do outro. Marilene ficou com raiva? “Tudo bem,” – pensou Roberto – “a raiva é dela e vai passar. Vou comprar os cogumelos”. Roberto esqueceu os cogumelos? De novo? Pensou Marilene. “Tudo bem, não posso esquecer quantas qualidades ele tem”.
Eis o amor manifestado na forma mais simples do cotidiano, como um diferencial de compreensão e respeito, capaz de dar ao outro liberdade para que seja, com integridade e singela leveza, simplesmente aquilo que é. É oportunidade para que cada um expresse com tranqüilidade o Ser Em-si, resultado de sua constituição histórica única, rica e exclusiva. Quando recíproco, o diferencial do amor mantém o dinamismo e a estabilidade da união independentemente da intensidade das curvas que a estrada do cotidiano possa apresentar.
PAULO HENRIQUE RATHUNDE é Engenheiro Civil; Mestre em Organizações e Desenvolvimento; Autor do livro Artesão do Meu Futuro; é colunista da revista SER Espírita.
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