Por Cristina Helena Sarraf
Conhecer-se requer um estudo não somente do próprio comportamento, mas igualmente do comportamento humano como um todo, bem como o que o sustenta, o que o determina e o que o finaliza.
Hammed busca relembrar que as ações e condutas exteriores são geradas inicialmente na vida íntima, onde os pensamentos criam a saúde ou a enfermidade, o que aliás, é perfeitamente demonstrado pelos princípios da interdependência, repercussão ou reverberação.
Todo fenômeno psíquico pode ser explicado por reflexos/experiências e combinações destes. Os reflexos/experiências demarcam as emoções. As emoções criam as idéias. As idéias geram os comportamentos e as palavras que comandam os atos e as atitudes.
Somos no presente, por conseqüência, herdeiros diretos do acúmulo de nossas experiências, com possibilidades de alterar-lhes, no futuro, a qualidade, a amplitude e a direção, com vistas a atingir a felicidade plena.
Individualizados do Elemento Espiritual, os Espíritos começam sua evolução que se caracterizará, nas etapas seguintes, pela constituição de um corpo de matéria densa, com o qual terá vivências em mundos equivalentes ao seu grau evolutivo.
Assim acontecem os estágios nos reinos mineral, vegetal e animal; sendo que neste, nas fases superiores, a evolução já demonstra, escolhas, inteligência, sentimentos, personalidade, discernimento e aprendizado.
O corpo que foi, aos poucos, formado e aprimorado nas múltiplas encarnações, é reflexo da evolução do Espírito que o possui. Suas funções, nas fases mais desenvolvidas, se fazem por mecanização. Espíritos nesse grau evolutivo já não precisam se voltar quase que tão somente para seu corpo, porque pelo uso repetitivo, condicionaram-se a tê-lo sob controle. É só assim que se iniciam, na fase hominal, a autoconsciência, o desenvolvimento psicológico e a espiritualização.
Exatamente por ficar inteiramente por nossa conta, o arbítrio é usado como se pode em cada época, ou seja, ora optamos pelo que nos faz bem e ora, pelo que nos prejudica, mesmo sem percebermos isso. Só o tempo e a lei da causalidade nos mostram os equívocos e os acertos de nossas decisões.
É assim que podemos nos viciar em emoções.
Elas são reações condicionadas advindas de termos um corpo físico.
O que nos chega do exterior dispara processos de reação física, correspondentes a muitas nuances de prontidão, temor, prazer e desconforto.
Observemos que as emoções sobem, vêm de baixo para cima, revelando sua origem instintiva e irracional.
Diferentemente dos sentimentos que são duradouros, as emoções têm por natureza serem passageiras.
A questão está em que podemos, por escolha, tornarmos as emoções duradouras, prolongando-as através da fixação pelo pensamento repetitivo.
Ao alterarmos sua natureza, elas passam a nos prejudicar, porque não cessam, como naturalmente aconteceria, após realizarem sua função de reconhecimento das situações externas.
Confundindo emoções com sentimentos, consciência e intuições, nos agarramos a elas e acabamos por nos viciar, porque elas disparam a produção de "químicas" nas células, as quais passam a ter, como disse Kardec, uma segunda natureza. Ou seja, passam a funcionar com substanciais desnecessárias ao seu metabolismo e saúde.
Por que o vício?
Porque a substância característica, em teor e intensidade, da emoção que retemos, entra na economia celular e quando falta, sentimos sua necessidade física e psicológica, ou seja, entramos na síndrome de abstinência. Cuja suportação, aliás, será a única forma de vencermos esse vício.
Mas parece que estamos falando de álcool, drogas... E é exatamente isso!
É a mesma coisa.
Obviamente que esse proceder acarretará disfunções e doenças, que se vistas com olhos vulgares, serão remediadas com remédios e a causa continuará a produzir efeitos deletérios e dolorosos.
Como o vício é a dependência de algo, basta observar se estamos dependentes da irritação, para escaparmos dos problemas; da ansiedade, para tentarmos controlar situações complexas; de falar mal dos outros, para ter a falsa sensação de superioridade; do stress, para nos sentirmos eficientes; do medo, para sermos protegidos pelos outros; da comida, para saciar carências; de ser vítima, provocando atenções ao coitadinho frágil; e assim vai...
Um importante aviso: o corpo aumenta a tolerância à substância viciante, seja ela inserida ou produzida nele, para que não haja colapsos. Isso significa que a desatenção ao que fazemos, nos faz aumentar a dose dos viciantes, porque aquele pouco já não trás a sensação de prazer, que em última instância é o que se busca.
Jesus, por sua superioridade conhecia bem as leis da Vida e por isso deixou o alerta de que não fizéssemos certas coisas, nem pelo pensamento.
Por que trazer isto aqui?
Porque quando nos lembramos de situações passadas, que nos trouxeram reações emocionais fortes, essa recordação trás de volta a emoção.
O corpo não pode distinguir se estamos agindo ou lembrando, portanto, quando "apertamos o botão", o procedimento físico, que já está condicionado, dispara reações e produção de substâncias correspondentes.
Viver lembrando certas coisas está provocando, então, os mesmos perturbadores vícios em emoção.
Observar-se com amor, ver e querer, reverte isso!
Fonte: Revista Universo Espírita, edição 62 - 2009