sábado, 10 de julho de 2010

A JORNADA DO AUTOCONHECIMENTO

A tecnologia moderna tirou um pouco da emoção de se viajar por lugares novos, o sentimento descoberta, do que estaria além da próxima curva da estrada, já não é mais o mesmo em tempos de navegação por satélite e um banco de dados ilimitado na Internet. Mas, enfim, esquecendo-nos um pouco de toda esta fantástica comodidade, imaginando ainda o viajante que se lança ao desconhecido, sem outro guia que alguns mapas imprecisos e, muitas vezes, em línguas estranhas, deixe-nos utilizar esta imagem para a jornada de autoconhecimento. Todos nós, de uma forma ou outra, estamos nessa jornada. Todos temos alguns mapas fornecidos pelas filosofias de vida, pelas religiões e até pela ciência, mas também já percebemos que ­apesar deles ­há descobertas que cada ser precisa fazer por si mesmo. Diferentemente da estrada, que está construída, cada um de nós vai criando os próximos trechos a partir das escolhas que faz. O que já percorremos soma-se nossa bagagem de conhecimentos e influencia os passos seguintes, porém, é no momento presente que nossas ações determinarão o que encontraremos a frente.

Diante de nós estão as paisagens que buscamos atingir, a montanha do conhecimento, a liberdade das agruras da jornada, a felicidade de descortinar horizontes mais amplos. Não há atalhos, ninguém pode percorrer o caminho por nós, embora possa nos dar dicas para a viagem, nos apoiar nos trechos mais difíceis e estar ao nosso lado quando precisarmos. De fato, nada impede que caminhemos junto com outros, em apoio mútuo para superação dos desafios e, que pelos laços de afeto construídos durante a jornada, ganhemos companheiros dedicados.

Esta jornada de autoconhecimento, de expansão da consciência, se confunde com a própria evolução do ser. A medida que trilhamos o caminho, nos transformamos, a experiência que vamos adquirindo nos faz crescer espiritualmente. Não tanto pelo que vamos acumulando de memórias, de sentimentos, de cultura, mas pela mudança no âmago do próprio ser. Nossos processos mentais se refinam, nossa percepção do que está ao nosso redor se modifica, a medida que crescemos espiritualmente passamos a ver com maior clareza a realidade.

Não é uma jornada de uma única vida, estamos nela há muito tempo e há muito ainda o que percorrer. Ninguém sabe ao certo onde ela iniciou, provavelmente nas formas mais simples de vida, onde o espírito ensaiou os primeiros processos mentais, reações instintivas aos eventos externos que lhe agrediam a organização celular primitiva. Também não se sabe ao certo onde terminará, se é que há algum fim para ela, o que se diz é que ela leva o espírito ao estágio do mais absoluto desprendimento da matéria e desenvolvimento de capacidades que ainda estamos longe de compreender. Nesta jornada acabamos de deixar para trás as etapas onde o instinto dominava e ensaiamos os primeiros passos no uso da razão e do sentimento. Falta-nos ainda o entendimento do que está além dos nossos sentidos materiais e nossa concepção de Deus apenas começa a se desvencilhar dos mitos criados na infância da humanidade.

O que já trafegamos da jornada está guardado em nosso inconsciente, nosso consciente trata trecho em que estamos hoje. Há uma interação constante entre eles, o que está guardado no inconsciente não é como a bagagem em um veículo, bem fechada e guardada para ser retirada quando necessário. Se parece mais com sementes que germinam nas condições propicias, com reservas de energia que podem ser acionadas para nos impulsionar para frente ou frear nossa jornada. Também são lentes com as quais filtramos a visão que temos das paisagens adiante. Seu conteúdo vem continuamente à tona, mesmo que de forma imperceptível, influencia nossos pensamentos e motivações, dá o tom de nossas emoções e sentimentos, afetando até mesmo nossa saúde física e mental.

Para uma boa viagem, para que não nos percamos na jornada, faz-se necessário atenção em nós mesmos. Precisamos aprender a olhar em nosso interior, a descobrir o que nos move, a entender o que trazemos na nossa mente. É possível sim, ter uma noção mais exata do que somos e práticas de meditação existem em todas as formas de caminho espiritual, tanto no ocidente como no oriente. Sem esta análise, sem este conhecimento, o viajante segue como condutor distraído, sujeito a reações inesperadas e errôneas diante dos obstáculos que se lhe apresentarem.

Falamos nos últimos textos da mente, de como ela interfere com nossa visão da realidade, como ela também molda nossas ações e através delas modifica o mundo ao nosso redor. Falamos também que o estado da mente nos coloca no céu ou no inferno, que em vez de serem locais externos são simplesmente realidades interiores a influenciar o ambiente em que nos vemos. Aqui, ou no plano espiritual, somos o que pensamos e vivemos onde nos colocamos pelo nosso pensamento. A grande diferença é que a matéria que encontramos no plano material é menos suscetível a ação do pensamento que a do mundo espiritual e assim não fica tão evidente o quanto nós mesmos somos responsáveis pelo que nos rodeia.

A boa notícia, é que este estado da mente não vem de um determinismo imposto a nós, pode e deve ser mudado, como dissemos acima, é este o resultado e o objetivo da jornada.


Fonte: Boletim GEAE - Grupo de Estudos Avançados Espíritas - nº543 - 30 de junho de 2010

Nenhum comentário: