segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O QUE TEMOS FEITO POR NÓS?

As atividades no bem são sempre credenciais de paz no mundo espiritual?
“Você disse que existem pessoas, que não tem religião e não seguem nenhuma doutrina e são mais felizes do que os espíritas. Por quê? Qual sua opinião?”
A pergunta acima foi feita aqui no meu blog. Tema oportuníssimo para refletir.
Não é a religião que torna o homem feliz, mas sim o amor, a vida em sintonia com o bem. Pensemos juntos.

O espírita, assim como a maioria dos religiosos, costuma confundir bastante a tarefa doutrinária ou o conhecimento doutrinário com elevação espiritual. As tarefas são importantes e, inegavelmente, aliviam a dor de quem faz e de quem recebe o bem. O conhecimento, por sua vez, ilumina e orienta. Todavia, somente uma educação dos sentimentos na vida íntima de cada um de nós, poderá nos conduzir às conquistas pessoais na direção da legítima libertação da consciência.
Os tarefereiros espíritas são pessoas valentes e dispostas no ato de ser útil ao semelhante, são valorosos no desapego de bens materiais e esforçados na disciplina de suas realizações doutrinárias. Entretanto, no que tange a seu comportamento e suas tendências íntimas, frequentemente, demonstram-se desorientados ou passivamente em clima de negação.
É preciso ter a coragem de admitir para nós que tarefas e conhecimento, por si só, não educam o ser humano e nem asseguram automaticamente a paz interior. São instrumentos pedagógicos indispensáveis, mas educação e melhoria é algo para ser construído no mundo real das lutas sociais, nas relações de cada dia.
A abençoada tarefa espírita do socorro material, da evangelização infantil, da sopa generosa, do amparo ao velhinho, enfim qualquer tarefa da nossa seara, são plantações de elevação e enobrecimento do afeto. Convenhamos, porém, que nenhuma delas retrata com fidelidade as relações da realidade que temos em família, no trabalho e na vida em sociedade, nas quais ficam muito evidenciadas as nossas qualidades e também nossas mais enraizadas mazelas. As tarefas espíritas são espaços benfazejos de refazimento, meditação, exercício de altruísmo e desprendimento. São lições preciosas da alma, embora as lições mais essenciais, em verdade, são aprendidas além dos ambientes das realizações doutrinárias.
O cuidado nesse assunto, que tem sido insistentemente destacado pelos amigos do mundo espiritual, está em não confundir a sensação reconfortante e valorosa de bem-estar em ser útil com libertação por automatismo. Há muita ilusão a respeito do tema. Com muita facilidade, podemos acreditar que fundar obras sociais ou nelas cooperar seja um atestado de avanço espiritual e com isso, sem percebermos, deixar de lado a tarefa mais emergente para nossa verdadeira segurança espiritual que é o enfrentamento de nossas sombras interiores que suplicam iluminação e direção.
No livro “Quem Perdoa Liberta”, temos uma história muito interessante de um grande trabalhador das frentes de caridade social chamado Benevides. Um homem dedicado ao bem das crianças que, mesmo com tantas realizações de beneficência, passou por dores incontáveis na vida espiritual em função de uma das mais velhas armadilhas emocionais do reino humano: a maledicência.
Para oferecer algo mais consistente da parte do amigos espirituais, transcrevo trecho da introdução do livro “Prazer de Viver”, na qual Maria Modesto Cravo, nos oferece notícias sobre alguns destes tarefeiros que acreditavam que chegariam com largas credenciais no mundo espiritual em razão de suas obras sociais:

“Deslocados de plano, distante de suas creches e obras de solidariedade, sentiram-se sozinhos e desvalorizados. Em verdade, ficaram na superficialidade da caridade. Estavam envolvidos com o dever de ajudar, mas não comprometidos com o ato de amar. Derramaram apoio e suprimiram fome e dor. Esqueceram de si mesmos, não como um ato de renúncia, e sim como uma fuga do enfrentamento pessoal. Bem-intencionados, porém, descuidados. De boa vontade, contudo, sem a coragem para zelar por suas necessidades mais profundas. Passaram pela vida física fazendo muito bem aos outros e esquecendo-se de realizar o bem próprio, com medo se arremessarem novamente ao egoísmo.
Pela bondade semeada colheram os frutos da amizade e da atenção. Espera-lhes agora a tarefa redentora de se autoinvestigarem, de saberem como amar também a si mesmos. Carregam na alma o peso da aflição que negaram. São tratados na mesma linha terapêutica para a recuperação do prazer de viver, porque com raras exceções escapam ao doloroso episódio da depressão depois da morte.
É lamentável constatar que, até mesmo nas linhas de serviço da religião, encontram-se uma multidão de almas que erguem o estandarte do amor e se asilam em fugas complexas em relação ao autoencontro.
Para todos, porém, há esperança. Se a misericórdia celeste não abandona os vales mais sombrios da maldade, que se dirá daqueles que já se esforçam por realizar algo no bem?”
Retornando à pergunta inicial: “Você disse que existem pessoas, que não tem religião e não seguem nenhuma doutrina e são mais felizes do que os espíritas. Por quê? Qual sua opinião?”
Existem muitas pessoas assim, porque já entenderam as leis divinas em sua consciência e não são enfermos tão graves quanto nós, que ainda, por longo tempo, precisaremos das amuletas generosas da religião, para nos lembrar da nossa condição espiritual e o quanto ainda temos que fazer para desiludir de nossa suposta grandeza.
Como sempre, gosto de lembrar que meus apontamentos são escritos apenas com intuitos de incentivar o dialogo. Não são conclusivos. Ao contrário, a idéia é que apenas instiguem a conversa amigável e construtiva através de discussões sadias nas quais haja a boa discordância e outras variações de exame no tema.
Fiquemos por aqui e tomemos juntos um delicioso cafezinho mineiro...

Um comentário:

Anônimo disse...

Sempre que leio Wanderley Oliveira, me sinto desiludido. Temo que quase todas as suas opiniões, pois são apenas opiniões, tem sempre o intuito de desanimar, desiludir os leitores. Este irmão é espirita ? Ou temos entre nós um leão travestido de cordeiro ? Refletir sobre o mundo é nossa obrigação, pois temos o intelecto para usá-lo, mas sempre tendo em mente o nosso desenvolvimento espiritual. Progresso espiritual é alegria, otimismo e serviço ao próximo, sob qualquer forma.